Quando eu aina estava no pré-vestibular (faz muito tempo), o professor de português e redação solicitou que completássemos um texto que começava assim: "O sertanejo alongou os olhos pelo horizonte. As várzeas, a caatinga...".
Sempre achei que foi uma das melhores coisas que já escrevi até hoje.
Relendo o texto hoje, acho que parece coisa de adolescente, mas continua legalzinho.
E você? O que acha?
MEU AMIGO SERTANEJO
O sertanejo alongou os olhos pelo horizonte. As várzeas, a caatinga, o gado, o casebre e ele. Todos, muito sofridos, ferviam na imensidão de terra árida. O Sol, que se encontrava exatamente acima de sua casa, não parecia um Rei; mas um ditador, que faz nossos corpos parecerem um emaranhado de pedaços de pau cobertos com um pano surrado.
Quando choveu - há mais ou menos 4 meses - as várzeas (mais verdes), o gado (mais feliz), a casa (lavada) e nós (esperançosos), esboçamos o pouco de vida que há aqui, nesta terra que Deus parece ter esquecido.
Agora, o esboço é da morte. E, a única coisa que nos mantém vivos é a pouca carne dos ossos dos bois que caem, algumas plantas que sobrevivem encrustadas no solo seco e a ponta de esperança que o sertanejo e eu usamos para vencer as chamas da terra fumegante - o inferno.
Em julho, num dia igual à todos os últimos 120, ele me disse que sonhou com Deus e afirmou que teria que chover naquela semana - Ele lhe dissera.
Não choveu. Porém, o calor daquele ditador estava abrandado pelo inverno. Passaram-se 8 dias desde aquele sonho, e não choveu. Deitamos e rezamos.
No meio da noite, acordamos com um clarão seguido de um estrondo ensurdecedor. O gado se agitou, as plantas pareciam alegres; a casinha estava sendo lavada novamente. Nós saímos do abrigo de nossos quartos e fomos lá fora.
Lá, o corpo do sertanejo pulava de alegria. Eu o observava com um sorriso largo. A luz da lamparina, vinda da janela, tocava-lhe a face. Ela parecia uma luz divina, a Luz de Deus. Depois de um enorme salto sobre a pequena plantação, ele usou sua voz estridente e gritou olhando para o céu: "Deus nos avisou, amigo."
Meu amigo sertanejo caiu ali mesmo. Seu corpo estava sendo lavado pela chuva e, sua alma, deixando o inferno, se encontrou com Deus.
Alex Galhano Robertson
Sempre achei que foi uma das melhores coisas que já escrevi até hoje.
Relendo o texto hoje, acho que parece coisa de adolescente, mas continua legalzinho.
E você? O que acha?
MEU AMIGO SERTANEJO
O sertanejo alongou os olhos pelo horizonte. As várzeas, a caatinga, o gado, o casebre e ele. Todos, muito sofridos, ferviam na imensidão de terra árida. O Sol, que se encontrava exatamente acima de sua casa, não parecia um Rei; mas um ditador, que faz nossos corpos parecerem um emaranhado de pedaços de pau cobertos com um pano surrado.
Quando choveu - há mais ou menos 4 meses - as várzeas (mais verdes), o gado (mais feliz), a casa (lavada) e nós (esperançosos), esboçamos o pouco de vida que há aqui, nesta terra que Deus parece ter esquecido.
Agora, o esboço é da morte. E, a única coisa que nos mantém vivos é a pouca carne dos ossos dos bois que caem, algumas plantas que sobrevivem encrustadas no solo seco e a ponta de esperança que o sertanejo e eu usamos para vencer as chamas da terra fumegante - o inferno.
Em julho, num dia igual à todos os últimos 120, ele me disse que sonhou com Deus e afirmou que teria que chover naquela semana - Ele lhe dissera.
Não choveu. Porém, o calor daquele ditador estava abrandado pelo inverno. Passaram-se 8 dias desde aquele sonho, e não choveu. Deitamos e rezamos.
No meio da noite, acordamos com um clarão seguido de um estrondo ensurdecedor. O gado se agitou, as plantas pareciam alegres; a casinha estava sendo lavada novamente. Nós saímos do abrigo de nossos quartos e fomos lá fora.
Lá, o corpo do sertanejo pulava de alegria. Eu o observava com um sorriso largo. A luz da lamparina, vinda da janela, tocava-lhe a face. Ela parecia uma luz divina, a Luz de Deus. Depois de um enorme salto sobre a pequena plantação, ele usou sua voz estridente e gritou olhando para o céu: "Deus nos avisou, amigo."
Meu amigo sertanejo caiu ali mesmo. Seu corpo estava sendo lavado pela chuva e, sua alma, deixando o inferno, se encontrou com Deus.
Alex Galhano Robertson
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